Paciência e trabalho duro: como a URSS explorava o trabalho infantil

Pois bem, camaradas, hoje vamos de um post interessante e há muito planejado: como na União Soviética se explorava o trabalho infantil. Claro que os fãs da URSS vão logo gritar que é tudo mentira — que isso é coisa dos EUA, onde até hoje os negros trabalham 20 horas por dia com enxadas nas plantações de milho, enquanto na URSS as crianças só tinham o céu azul, o vento livre e a alegria pela frente, além do sorvete mais gostoso do mundo.

Obviamente, a realidade era bem diferente — desde os primeiros dias do regime soviético, as crianças eram colocadas para realizar trabalhos bastante pesados e, em certos casos, perigosos (como nas colheitas de algodão). A única diferença é que tudo isso era feito “voluntariamente e por ordem do Partido” — ou seja, com um sorriso no rosto e brilho nos olhos.

Então, neste post, vamos falar sobre como se explorava o trabalho infantil na URSS. Acompanhe aí, tem muita coisa interessante. E não se esqueça de adicionar aos favoritos.

O que dizia a teoria

Pra começar, vejamos como tudo isso aparecia “no papel”. Oficialmente, o trabalho infantil era proibido na URSS — os códigos do trabalho soviéticos, aprovados em 1918 e 1922, supostamente proibiam o emprego de crianças. A “amiga das crianças” Nadejda Krupskaya vivia dizendo que a legislação soviética era super progressista — que trabalho forçado de crianças só existia em países capitalistas como os EUA, e que o Ocidente já estava em decadência e logo iria apodrecer de vez.

A propaganda soviética também gostava de bater nos tempos do czarismo, e tirava do baú autores obscuros dos anos 1880 a 1910, cujas histórias traziam “detalhes chocantes” sobre a exploração infantil na Rússia imperial — uma criança levou um tapa, outra ficou sem almoço. O fato de que a maioria desses relatos se referia, na verdade, a aprendizagem de ofícios e ao mau humor de certos mestres era convenientemente ignorado. Os tempos do czar eram mostrados só pelo lado negro — as ilustrações sempre mostravam crianças trabalhando de sol a sol em porões escuros e enfumaçados, comendo no máximo uma vez por dia.

Enfim, “no papel”, a URSS era um exemplo — derrotamos o czarismo terrível e estamos marchando rumo ao futuro radiante.

A realidade no pré-guerra

Agora vamos à realidade dos anos anteriores à Segunda Guerra. E a realidade é que o trabalho infantil era amplamente explorado — em fazendas coletivas, fábricas, ou em diversas tarefas gratuitas. Curiosamente, antes do culto à personalidade de Stálin (final dos anos 1920), a própria imprensa soviética mencionava esses casos. Por exemplo, em uma edição de 1929 do jornal “Пионерской правде” (A Verdade do Pioneiro), lê-se:

“O camarada Petrov, que conversou conosco sobre a vida dos jovens do kolkhoz, contou que existe uma jornada de trabalho de seis horas para os garotos. Eles ganham 25 copeques por dia. Os mais velhos, entre 14 e 17 anos, recebem 50 copeques por dia.”

Trecho curioso — mostra, primeiro, que existia jornada de trabalho infantil nos kolkhozes. Segundo, que não era só adolescente que trabalhava, mas também crianças mais novas. E mais: adultos ganhavam bem mais pelo mesmo trabalho. Se isso não é exploração, então o que seria?

Nos tempos de Stálin, a propaganda mudou de tom. Antes, dizia-se que “na URSS a vida é boa, as crianças não precisam trabalhar, logo todas as tarefas pesadas serão feitas por máquinas”. Mas com Stálin, passou-se a dizer que o trabalho infantil era “para o bem das próprias crianças”, feito “voluntariamente e em benefício da sociedade”. Trabalhou de graça? Ganha um diploma de papelão e os parabéns do Partido. A razão dessa mudança? Simples — em vez de melhorar de vida, o povo soviético estava cada vez mais na miséria, e começaram a usar até crianças nas fábricas.

As fábricas de Stálin e os campos de algodão

Para onde iam as crianças nos anos de Stálin? Normalmente para fábricas, minas, oficinas — os meninos trabalhavam em mineração, operavam tornos e furadeiras. Na época, o poeta oficial Sergei Mikhalkov escreveu o poema de propaganda “Danila Kuzmich” — sobre um garoto que passava o dia inteiro em frente ao torno, usando uma caixa para alcançar o pedal (porque o torno era alto demais). Era mostrado como um exemplo de “glória do socialismo”. Mikhalkov termina o poema com “Danila Smirnov e os demais — URRA!”, e depois, imagina-se, foi jantar seu banquete de cinco pratos no apartamento oficial do governo.

Mas talvez o exemplo mais cruel de exploração infantil fossem os trabalhos pesados na colheita de algodão, especialmente nas repúblicas soviéticas da Ásia Central — Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão. A meta diária para as crianças era de 50 a 60 kg de algodão, o que exigia turnos de até 12 horas por dia. O dinheiro, ridículo, normalmente nem ia para os pequenos, mas para os diretores das escolas que os mandavam trabalhar.

Além do peso do trabalho em si, havia riscos graves: desidratação, insolação, e exposição a pesticidas, largamente usados nas plantações soviéticas. Casos de morte de crianças eram registrados. Quando um desses casos foi relatado ao primeiro-secretário do Partido Comunista do Uzbequistão, Sharaf Rashidov, ele respondeu: “Algodão é como guerra, e toda guerra tem perdas.”

Sobre o fato de que colher algodão era trabalho perigoso e completamente inadequado para crianças, a imprensa soviética nada dizia. Pelo contrário — exaltava os “heróis mirins” que se matavam de trabalhar. Em 1935, os jornais elogiavam Mamakat Nakhangova, uma menina do vilarejo de Shahmansur que colheu 100 kg de algodão em um dia e ganhou uma viagem para o Artek (colônia de férias do Partido). Milhares de outros, que também colheram algodão até cair, jamais foram mencionados. Ninguém dizia que isso não deveria acontecer numa suposta pátria socialista ideal.

A exploração no final da URSS

Se você pensa que nos tempos finais da URSS — anos 1960 a 1980 — quando, segundo os saudosistas, “o país vivia seu auge”, a exploração infantil acabou, lamento informar: ela apenas mudou de forma. As crianças eram enviadas para trabalhar de graça em kolkhozes, onde faziam capina, colheita, seleção de vegetais. Trabalho pesado, cheio de poeira, suficiente para provocar hérnias ou asma. Tudo “informal” — diziam que a escola “prestava ajuda voluntária ao kolkhoz”.

Às vezes mandavam a turma toda para obras — onde as crianças empilhavam tijolos em pallets. Chamavam isso de “trabalho socialmente útil e carga física”, ou “OFP”. Claro que alguém lucrava com isso, mas as crianças não viam um copeque. Casos assim eram aos montes.

Fora isso, tinha a palhaçada de sempre: coleta de papel velho, sucata, vidrinhos de remédio — sim, nos anos 60 e 70 cada aluno precisava entregar 7 ou 8 vidros vazios de remédios. Resultado? Criança jogando fora os remédios dos pais só pra bater a meta da equipe.

E ainda havia os tais “sábados comunistas” — dias em que se botava a molecada pra trabalhar sem motivo nenhum.

É isso. E você? Foi forçado a trabalhar na URSS? Coletou papelão ou vidro?

Escreva nos comentários — vai ser interessante saber.

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