Se Deus não usa força nem violência para nos dobrar à Sua vontade, por que insistimos em usar força e violência para dobrar os outros à nossa? Não deveríamos seguir o exemplo do nosso Pai Celestial?
Toda a estrutura da sociedade moderna — o estatismo — repousa sobre uma fundação de violência. As pessoas se organizam em diversos grupos políticos e lutam pelo controle de um aparato estatal que lhes permite impor sua vontade sobre os demais.
Basta considerar o atual debate sobre o controle de armas. Um grande número de americanos está comprometido em tirar certos tipos de armas de fogo de pessoas pacíficas. Obviamente, essas pessoas sabem que não podem, como indivíduos, usar legitimamente a violência para tomar a propriedade alheia. Mas se conseguirem controlar o poder do Estado e convencer representantes a aprovar uma lei, então o governo fará o que eles, moralmente, não podem fazer — usar a ameaça de força e violência para tomar a propriedade dos outros. Na mente dessas pessoas, o governo fornece a legitimidade para empregar meios violentos a fim de alcançar seus fins.
Ironia das ironias: essas mesmas pessoas afirmam que seu desejo por paz é o que motiva suas ações. Mas a ideia de paz que elas têm depende da violência.
No fim das contas, o que realmente querem é o poder bruto de moldar o mundo à sua imagem. O Estado fornece esse poder. A maioria das pessoas — inclusive cristãos — está mais do que disposta a usá-lo, se acreditar que isso lhes permitirá alcançar seus objetivos. Mesmo que estejam movidas por ideais nobres, os fins não justificam os meios.
Gerard Casey, professor emérito de Filosofia no University College Dublin, argumenta que Deus tem o direito absoluto de impor Sua vontade pela força. Afinal, Ele é o dono do universo. Ele também é o dono de cada um de nós.
“Se Deus, que da nossa perspectiva é o criador do universo — Ele literalmente nos fez, e nesse sentido, se alguém possui alguma coisa, Deus possui o universo — e, de fato, segundo nossa teologia, tendo morrido na cruz por nós, Ele nos possui novamente. Então, Deus, que nos possui duas vezes, e que no estilo ‘minha casa, minhas regras’ tem o direito — se é que alguém tem — de nos dizer o que podemos e não podemos fazer e, inclusive, de nos forçar a não fazer — se Ele não está disposto a fazer isso, como qualquer outra pessoa pode ter esse direito?”
Mas, embora Deus certamente tenha o direito de impor Sua vontade pela força, Ele não o faz. O reino de Deus opera com uma ética fundamentalmente diferente da dos reinos do mundo. Em vez de se fundar na força, coerção e violência, Deus atua com base no amor. Considere os dois Grandes Mandamentos:
“E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” — Mateus 22:37-39 (ACF)
Como alguém pode afirmar que ama seu próximo enquanto aponta uma arma para a cabeça dele exigindo que se submeta à sua vontade? Você gostaria que alguém o tratasse dessa forma?
Quando Jesus disse: “Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas”, Ele quis dizer que toda a estrutura moral e ética de Seu reino flui desses mandamentos.
Governos estatistas violam o segundo grande mandamento. Então, como crentes podem abraçar um sistema estatista? Deus não nos chama, nós que professamos Seu nome, a seguir uma ética diferente — a Sua?
No fim, Deus permite que todos os Seus filhos vivam livres. Ele nos oferece Sua Palavra, mas não nos obriga a segui-la. Sim, sofreremos as consequências naturais da desobediência. Ainda assim, Deus nos dá a liberdade de escolher. Ele não usa violência para nos forçar a dobrar o joelho e nos submeter a Ele. E tampouco nos obriga a entrar em Seu reino. Nós fazemos essa escolha. Ou não.
Como diz Casey, Deus estende a mão da amizade a nós, mas não nos força a aceitá-la.
“Se alguém diz ‘seja meu amigo’ e aponta uma arma para você, isso não é um bom começo para um relacionamento. Deus nos oferece Sua amizade. Temos a escolha de responder ou não. Mas, para fazer sentido, essa escolha precisa ser livre. Você tem que poder dizer sim, e tem que poder dizer não. E aqui está algo realmente interessante: Deus respeitará sua decisão, mesmo sabendo que ela não é uma boa ideia.”
Como Seus seguidores, devemos fazer o mesmo.